24 março 2016

Johan Cruyff


Não sei em que lugar ficaria na lista dos melhores de sempre. Mas não consigo colocar nenhum acima dele. 

No futebol a inteligência, a criatividade, a irreverência, a revolução(!) têm este rosto.

05 janeiro 2014

Eusébio


Tinha eu uns 11 ou 12 anos e comprei um livro de BD chamado "Eusébio Pantera Negra" de Eugénio Silva (Meribérica Liber, 1990), onde é relatada a sua biografia. Os meus amigos, na altura - quase todos benfiquistas, acharam estranho eu ter um livro sobre o Eusébio, para mais com o símbolo do Benfica na capa - uma vez que eu era um adepto ferrenho do FC Porto. Os mais próximos não terão estranhado tanto, até porque sempre lidaram com o meu desportivismo, e era frequente fazerem-me perguntas sobre o clube deles.

Eusébio foi um dos maiores jogadores do mundo de todos os tempos. Creio que pouco importa em que lugar ficaria nessa classificação. E seguramente dos mais consensuais de todos, pelas suas enormes qualidades enquanto atleta e pelo seu admirável fair-play.

O jogo de Eusébio mais vezes referido é o célebre Portugal – Coreia do Norte (1/4 final do campeonato do mundo de 1966), onde a selecção nacional chegou a estar a perder por 3-0 mas deu a volta até aos 5-3 graças à força de Eusébio e aos seus 4 golos (vestindo a camisola 13 e não o seu habitual 10). Só nesse mundial os seus golos foram 9 (único futebolista português a ter o título de melhor marcador de um mundial até hoje), e 2 deles foram marcados ao então campeão do mundo Brasil. Uma das imagens mais vezes repetida desse mundial mostra a desilusão de Eusébio em pleno estádio de Wembley, banhado em lágrimas, depois da derrota frente à Inglaterra por 2-1 nas meias finais (o golo português também foi apontado por ele). E daí em diante, as vitórias de Portugal sobre a Inglaterra, ou do Benfica sobre equipas inglesas foram sempre festejadas de forma particularmente sentida pelo “Pantera Negra” - basta lembrar as imagens do Euro 2004 e do desempate por grandes penalidades.

Embora Eusébio “seja de todos”, é impossível falar dele sem falar do Benfica e vice-versa. E se é certo que quando chegou à Luz encontrou já uma grande equipa (em 1961 o Benfica foi campeão europeu ainda sem ele), com Eusébio os encarnados atingiram um patamar nos anos 60 dificilmente igualável. Para além da Taça dos Campeões Europeus de 1962, conquistada com uma vitória na final por 5-3 sobre o Real Madrid de Di Stéfano (o seu grande ídolo) e Puskas, foram mais 3 finais alcançadas – 1963, 1965 e 1968 (AC Milan, Inter e Manchester United respectivamente).

Ficam aqui algumas belas imagens do mundial que deu a conhecer ao mundo o eterno “Pantera negra”. Chamo a atenção para o pormenor de Eusébio depois de marcar grandes penalidades – cumprimenta os guarda-redes batidos, num gesto genuíno e habitual nele (foi assim com Gordon Banks de Inglaterra e Yashin da União Soviética). 




05 fevereiro 2013

Estádio Santiago Bernabéu (Madrid)


É difícil encontrar um estádio com mais títulos e mais história do que este. Inaugurado em 1947, o Santiago Bernabéu viu jogar no seu tapete verde quase todos os maiores jogadores de todos os tempos. Foi o palco da final do mundial de 1982 (Itália 3 - 1 Alemanha), e do Europeu de 1964 ganho pela Espanha. Mas é, antes de mais, a casa do Real Madrid, considerado o melhor clube do mundo do século XX pela FIFA. 


Entrar neste estádio, com capacidade para 100 mil pessoas, completamente vazio, no meio do fervilhar de uma cidade de 3 milhões de habitantes tem uma atmosfera que transcende em muito um simples jogo. 


Os mais de 60 anos de história deste estádio podem ser sentidos no museu do Real Madrid, onde a figura de Di Stéfano ocupa um lugar muito especial. "La Saeta Rubia" (a flecha loira), como era conhecido, foi um dos jogadores mais completos de sempre e é o símbolo máximo dos Madridistas. Foi com ele que o clube conseguiu conquistar as cinco primeiras edições da Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões). Um recorde ainda inultrapassado e que (muito) provavelmente nunca o será.


E à fantástica equipa do Real Madrid dos anos 50 juntou-se ainda um dos pés esquerdos mais geniais da história do futebol - Ferenk Puskas. O líder da fantástica selecção da Hungria, campeã Olímpica em 1952, finalista derrotada no mundial de 1954 e que humilhou a Inglaterra em Wembley. Ainda hoje continua a ser lembrada como uma das melhores equipas de todos os tempos. 


Desde esses tempos até aos dias de hoje, a constelação de estrelas que por ali passaram foi aumentado muito, como se sabe. E, de forma inteligente,  um clube que tem adeptos espalhados por todo o mundo orgulha-se dos internacionais que o representaram e da multiculturalidade que marca também a sua história. 


29 janeiro 2013

Futre


Ele foi o "nosso" Maradona. Nesses "grandes estádios" que eram os recreios das escolas, não havia "derbi" entre turmas que não tivesse alguém a tentar imitar os movimentos de um ou de outro. Era indiscutivelmente o melhor jogador português do seu tempo, com um pé esquerdo fabuloso, e uma capacidade de drible em progressão tão explosiva quanto desconcertante. Paulo Futre, o menino de ouro do futebol português, ou tão simplesmente “El portugués” como ficou conhecido em Espanha. 

Nascido no Montijo, começou a sua carreira no Sporting, clube onde teve pouco tempo para brilhar. Em 1984, numa troca de “ofensas” de contratações de jogadores, o FC Porto acabou por ver partir Sousa e Jaime Pacheco para o Sporting, mas foi buscar a pérola maior dos leões. Com apenas 18 anos, Futre meteu-se num comboio e só parou em Campanhã. Três anos depois não foi um comboio, mas sim um Porsche amarelo a marcar a sua transferência… Mas nessas três épocas de azul e branco Futre chegou aos píncaros da Europa – período coincidente com o crescimento europeu do FC Porto. Futre era a “muleta” perfeita de Gomes no ataque da equipa comandada por Artur Jorge (no ano seguinte chegaria ainda Madjer, completando um trio de sonho). 


Num tempo muito menos mediatizado, só nas grandes competições europeias é que os jogadores se davam verdadeiramente a conhecer. Depois de milhares de arrancadas fulminantes, dribles estonteantes, golos e assistências para todos os gostos, Paulo Futre acabou por se valorizar a nível europeu sobretudo por um golo falhado. É ainda hoje um dos lances mais recordados da sua carreira - na final da Taça dos Campeões Europeus de 1987, em Viena, Futre arranca pelo lado direito do ataque, ultrapassa 6 jogadores do Bayern de Munique e remata com classe ao segundo poste... E a bola sai ao lado. Seria Madjer a grande figura dessa partida, mas o destino do "Paulinho" estava traçado. Depois de dois campeonatos e uma Taça dos Campeões Europeus (hoje Liga dos Campeões), Futre rumava a Madrid para o Atlético de Gil y Gil - o polémico presidente do clube. Foi através dessa transferência (então a mais cara de sempre do futebol português) que Futre recebeu um Porsche Amarelo que se tornou célebre e cuja história chegou até a ser utilizada recentemente em publicidade. 

No Vicente Calderón (Estádio do Atlético), Futre encantou a "afición colchonera" (adeptos do Atlético de Madrid) que o consideravam muito melhor do que os jogadores do rival Real Madrid. "É muito melhor do que aquele dos outros, o Butragueño." - lembro-me de ouvir de um adepto espanhol numa das muitas entrevistas de rua que se fizeram na altura, em Madrid, a propósito do jogador "portugués". 

Fica aqui um pequeno vídeo que mostra o que Futre representa para o Atlético de Madrid - passa-se em 1997 quando ele regressa ao Atlético (depois de muitas lesões), e os adeptos não deixam falar o presidente do clube cantando o nome do jogador português, porque só o querem ouvir a ele:


Futre sempre pareceu um miúdo a jogar, no sentido apaixonado do termo, sempre de olhos bem abertos,  a revelar por vezes alguma ingenuidade. Participou no México 86, onde se deu o "caso Saltillo" (que marcou um dos piores períodos de sempre da selecção portuguesa), e carregou vezes sem conta Portugal às costas (era Futre e mais 10) - isto numa altura em que os adeptos pouco queriam saber da selecção, constantemente dividida com "tricas" entre os três grandes (Benfica, Sporting e Porto). 

Tal como Maradona, jogou numa altura em que os grandes talentos não eram protegidos em campo, e a sua carreira poderia até ter sido mais longa, não fossem as lesões. Futre não pertenceu à geração de ouro do futebol português, mas foi ele sozinho o "menino de ouro". Não ganhou tantos troféus como podia ter ganho, mas talvez por isso, a sua aura de irreverência e até de jogador revoltado tenham sido a sua imagem de marca.

27 janeiro 2013

Maradona


No ano em que eu nasci a Argentina sagrou-se campeã do mundo de futebol pela primeira vez. Estávamos em 1978 e ao país das "pampas" cabia, também pela primeira vez, a organização do mundial. Um jovem "pequenote" de apenas 17 anos ficou frustrado por não ter sido convocado pelo seleccionador César Luis Menotti - o seu nome era Diego Armando Maradona. O mundo ainda não tinha ouvido falar dele, mas não tardaria muito até que este nome se tornasse habitual nas bocas do mundo inteiro: "Deves achar que és o Maradona, não?".

Com apenas 17 anos Maradona ficava de fora dos convocados e não pôde assim repetir o feito de Pelé em 1958 pelo Brasil - sagrar-se campeão do mundo sem ter completado ainda 18 anos. Menotti acabou por convocá-lo sim, mas para o campeonato do mundo de sub-20 que se realizou no ano seguinte no Japão. A Argentina venceu a prova, e Maradona foi considerado o melhor jogador do torneio.

Seria preciso esperar mais alguns anos para que o talento único de Diego explodisse de forma épica no maior palco possível do futebol. Para trás ficava o seu início nos Cebolitas, a passagem pelo Argentino Juniores, e claro, pela Bombonera (mítico estádio de Buenos Aires, do Boca Juniors). Maradona jogou no pior período possível do futebol para génios como ele - os tempos dourados do "futebol arte" já tinham terminado, e ainda não tínhamos chegado ao tempo em que as maiores estrelas começaram a ser protegidas em campo pelas regras. Quer isto dizer que Maradona foi o futebolista que mais faltas sofreu e que mais entradas duras e e selvagens teve de sofrer em campo. Os cartões amarelos e vermelhos não saiam com a facilidade dos dias de hoje, e as lesões foram-se acumulando na sua passagem pelo Barcelona, no início dos anos 80, e no campeonato do mundo de 1982, realizado em Espanha.

Tudo teria sido muito diferente na vida de "Dieguito" e no nascimento de um mito (talvez incomparável) se Maradona não tivesse ingressado no Nápoles, em 1984. Nessa altura a equipa italiana lutava para não descer, e não tinha um único título nacional no seu palmarés. Nunca um jogador sozinho fez tanto por uma equipa quase desconhecida. Ainda hoje, e para sempre, Maradona é um deus na cidade do sul de Itália. Com ele, o Nápoles conquistou os dois únicos "scudettos" (campeão nacional de Itália) e ainda uma taça uefa, para além de taças de Itália. Mas mais dos que os títulos e a frieza dos números, nada como ver Maradona em campo para perceber o que o tornava tão único e sobre-humano.


Mas foi no México 86 que o mundo se rendeu ao talento de Maradona, e o elevou definitivamente ao lugar de "dios del futbol". A Argentina tinha uma boa equipa, mas que não deixaria de ser vulgar em comparação com outras selecções da altura, como o Brasil, a França, a Alemanha ou a Itália. Mas com Diego em campo as equipas adversárias não tinham sequer o direito de sonhar - aquele era o campeonato da consagração de Maradona, e nada nem ninguém o podiam travar. 


Este foi considerado o golo do século, e na altura Maradona não driblou um grupo de sete desconhecidos num qualquer jogo sem interesse no meio de um campeonato nacional. Foi diante de 100 mil espectadores, em pleno campeonato do mundo, e frente à Inglaterra - isto depois de ter marcado o célebre golo "com a mão de deus". 

Na final, o seleccionador alemão Franz Beckembauer ainda tentou colocar o seu jogador mais talentoso (Lothar Matthaüs) a fazer marcação directa a Maradona - mas o génio argentino jogava e fazia jogar, e se não tinha espaço para marcar golos, foi dele a assistência para o golo decisivo de Burruchaga, rodeado por 6 alemães atónitos. 

Para não me alongar mais deixo apenas esta sugestão (mesmo para aqueles que não gostem particularmente de futebol) - Maradona por Kusturica - um filme em que o realizador sérvio nos mostra o mito desta personagem como ninguém. 


Deixo apenas uma nota final para ajudar a perceber a iconografia do futebol através do carisma deste jogador. Itália - 1990, nas meias finais do campeonato do mundo a Argentina, liderada por Maradona, vai defrontar a Itália no S. Paolo (estádio de Nápoles). Os tiffosi (adeptos italianos) napolitanos ficaram divididos entre as duas selecções, chegaram a fazer-se sondagens para perceber por quem iriam torcer. Não há registos de outro fenómeno assim...